A decoração como reflexo da época é um dos objetivos da exposição que abre sexta-feira no MUDE - Museu do Design e da Moda, Coleção Francisco Capelo, em Lisboa, disse o seu curador, o arquiteto Pedro Gadanho.
Em declarações à Lusa, Pedro Gadanho, atual curador de Arquitetura Contemporânea no Departamento de Arquitetura e Design do Museu de Arte Moderna (MoMA), de Nova Iorque, afirmou que a exposição «retende chamar à atenção para a destruição de interiores que retiram a leitura integral do edifício».
«Esta é uma política a que chamamos de «fachadismo», pois destrói-se o miolo e mantêm-se as fachadas¿, acrescentou.
O arquiteto disse que se têm perdido em Portugal muitos interiores e, «se se mantêm alguns interiores públicos, dado o seu caráter, muitos foram alterados ou totalmente destruídos por sucessivas renovações».
A exposição, constituída por fotografias, reconstituições tridimensionais e de alguns elementos do espaço como mobiliário, intitula-se «INTERIORES: 100 anos de Arquitetura de Interiores em Portugal», e estará patente no piso dois do MUDE até 28 de abril.
A mostra, dividida em dez núcleos ¿ um por cada década ¿ aborda todo o século XX, com o propósito de «mostrar como as tendências mudavam mais de depressa do que se supõe», e inclui espaços projetados, entre outros, por Álvaro Siza Vieira, Alberto Caetano, António Pedro Portugal Mendonça & Manuel Maria Reis, Conceição Silva, Cristino da Silva, Cassiano Branco, Daciano Costa, Eduardo Afonso Dias, Egas José Vieira, Fernando Távora, Fernando Salvador e Margarida Grácio Nunes, Luís Bevilacqua, Marques da Silva, Manuel Graça Dias, Raul Lino, Tomás Taveira e Ventura Terra.
«Na história da arquitetura portuguesa em geral, e logo também na de interiores, há uma grande combinação de influências estrangeiras e a tentativa de adaptar a uma linguagem local e de elementos locais», disse Pedro Gadanho à Lusa.
Foi a «qualidade intrínseca» dos interiores que esteve no centro as preocupações de Pedro Gadanho, durante a seleção de obras. O curador procurou «interiores expressivos da sua época, interiores que consigam refletir mais o espírito da época do que o arquiteto representativo».
«Os exemplos são escolhidos porque são muito característicos», enfatizou.
Para o curador, esta exposição «abre um campo diferente e novo de investigação, que foi abandonado pelos próprios arquitetos que se focaram mais no edifício, dado o surto de construção, e abandonaram um pouco o tratamento do interior, apesar de terem tido sempre essa ambição, tratar interior/exterior como um todo».
A exposição pretende ainda criar «uma maior sensibilização e dar importância ao interior e à sua qualidade».
LUSA