O colectivo que julga o processo Casa Pia rejeitou, esta segunda-feira, o pedido da defesa do arguido Carlos Cruz para que a TVI entregasse imagens em bruto de entrevistas a alegadas vítimas de abusos sexuais.
O advogado de defesa do apresentador televisivo, Ricardo Sá Fernandes, requereu na sessão desta segunda-feira que o tribunal instasse a TVI a entregar os «brutos» de entrevistas a três das alegadas vítimas realizadas entre Novembro de 2002 e Fevereiro de 2003.
Para Ricardo Sá Fernandes, essas imagens e depoimentos seriam «precisos para compreender» como se construiu a «fantasia» que considera serem as acusações que recaem sobre Carlos Cruz, acusado por ex-alunos da Casa Pia de Lisboa de alegados abusos sexuais.
O advogado afirmou contar com a mudança na dilecção de informação da estação, que esperava ser «mais empenhada» na localização das imagens, no caso de «não terem sido efectivamente destruídas».
A juíza presidente do colectivo, Ana Peres, decidiu não aceitar o requerimento, lembrando que em Agosto de 2008, a solicitação do tribunal - que ameaçou a estação com uma multa por não cooperação com a Justiça -, a TVI enviou dois dvd com imagens de reportagens sobre o processo e afirmou que «não dispunha de mais quaisquer outros» elementos audiovisuais que pudessem ser úteis para o julgamento.
O procurador do Ministério Público, João Aibéo, criticou a defesa de Carlos Cruz, afirmando que o requerimento assentava no «preconceito» de que a anterior direcção da TVI «não estaria interessada» em dar ao tribunal tudo o que tinha em arquivo sobre o processo.
Acusando a defesa de tentar uma manobra «dilatória» num julgamento que dura há mais de cinco anos, Aibéo ironizou: «A ser assim, chegaremos seguramente a 2016».
Na sessão desta segunda-feira, o tribunal viu, a pedido da defesa do médico Ferreira Diniz, uma gravação vídeo das deslocações de dois dos jovens que acusam o arguido de abusos sexuais à casa onde afirmam ter sido abusados.
Nas imagens, ambos identificaram a casa como sendo o local onde foram abusados, embora com diferenças na disposição interior das divisões.
No entanto, nas alterações ao despacho de pronúncia, o tribunal alterou a localização dos abusos da casa em questão para «uma vivenda nas imediações», na zona do Restelo.
Em declarações aos jornalistas à saída do Campus da Justiça, em Lisboa, Ferreira Diniz afirmou que quis evidenciar o facto de o tribunal ter alterado o local dos alegados abusos apesar de «os assistentes dizerem que foi naquele local», onde a sua defesa «conseguiu provar que não é verdade, porque se trata de um estúdio de gravação musical».
A próxima sessão do julgamento, reservada para novas alegações, foi marcada para dia 19 de Abril.