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A gravidez na adolescência
Grávida
Redação Lux  com Madalena Barata em 18 de Março de 2011 às 23:14
Por volta dos anos 70, os médicos, particularmente os pediatras, deram-se conta da elevada incidência de gravidez na adolescência.

Em 1980 a taxa era de 12% e desceu para os 4,5% atuais. O Planeamento Familiar encarado como disciplina fundamental na organização da Saúde Pública tornou o acesso à contraceção mais fácil e contribuiu claramente para a melhoria deste problema.

As consequências para a adolescente grávida são quase sempre o abandono escolar, quando não foi este que proporcionou a gravidez.

A família monoparental é o resultado habitual. Os pais destas gravidezes raramente assumem a paternidade, sendo usualmente mais velhos do que as adolescentes. Não são mais do que pais acidentais e a sua vida não se transforma de forma tão radical como a das mães.

A aceitação destas mães nos meios rurais, africanos ou ciganos é mais fácil, pois a «carreira» nestes grupos sociais é muitas vezes esta mesma. Nos meios urbanos, o recurso ao aborto é mais frequente.

A gravidez em idade tão precoce pode ter para a mãe compromisso do seu próprio crescimento, maior incidência de partos complicados em bacias pélvicas que ainda não atingiram o seu tamanho adulto, atrasos de crescimento do feto e maior incidência de EPH-Gestose, ou seja, complicações ligadas a hipertensão e edemas.

Enfim, realmente ser Julieta não é um bom destino para uma jovem, mesmo que o amado não seja Romeu e o fim do romance, apesar de tudo, seja muito menos trágico.

Prevenção

Melhorar a taxa de gravidez nesta fase tão precoce da vida parece que não será fácil. Os médicos que se dedicam a este tema não podem, por motivos da Constituição Portuguesa, tipificar os grupos sociais, pelo que ficam apenas com a noção de que esta será a percentagem de grávidas adolescentes dos grupos sociais para os quais este facto não é encarado como problema.

O programa para diminuir a taxa de gravidez em idade tão precoce envolve:

. Educação - A meu ver, a educação deve centrar-se na aprendizagem da fisiologia reprodutiva para não se tornar polémica e mal aceite por alguns grupos de pais.

. Aumento da autoestima das jovens. Há referência a expressões como empowerment, capacitação e promoção, para significar o reforço da valorização destas jovens por si mesmas.

Do meu ponto de vista, o triângulo jovem-pais-escola encerra a solução para uma educação saudável e bem-sucedida.

A vida profissional é muito importante, mas não deve asfixiar todo o espaço. Tem de haver alguém que acompanhe o crescimento das crianças. Pode ser o homem ou a mulher ou até os avós ou uma empregada doméstica, ou uma organização cívica. Tudo depende do estrato social. A carreira profissional não deve envolver de forma total todos os membros duma família, sem se pensar em quem vai dar assistência presencial. Há que não achar que o conforto material substitui o acompanhamento pessoal. Se não há possibilidade organizativa da família, então tem de ser a sociedade com as suas capacidades que deve dar prioridade ao apoio das crianças. Isto pode ser feito havendo centros de acompanhamento de estudo nas freguesias, ou mesmo domiciliários. A sociedade portuguesa tem de ser mais gregária. Se não podem acompanhar os filhos com soluções familiares, devem ter a iniciativa de encontrar alternativas fora da família.

Nunca me esqueço de um dia, já a adormecer eu própria com a história que contava ao meu filho, quando procurei sair discretamente do seu quarto, pondo a caixinha de música a tocar¿ Então, ouço a sua voz pequenina dizer: «Mãe, queres substituir-te por um objeto inanimado?»
Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico
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