O Teatro Nacional D. Maria II promove no próximo fim de semana a iniciativa «Teatro por alimentos», onde os espetadores são convidados a trocar o preço do bilhete por alimentos que serão entregues a uma organização de apoio aos sem-abrigo.
Atualmente está em cena a peça «Condomínio da Rua», de Nuno Costa Santos, que aborda a problemática da marginalidade e dos sem-abrigo, como contou à Lusa João Mota, diretor do teatro e que encena a peça.
«No sábado e no domingo o espetador poderá contribuir para esta campanha entregando uma embalagem de manteiga, marmelada, compota, atum ou salsichas, os alimentos mais solicitados pela Comunidade Vida e Paz, instituição de solidariedade social que se associou à iniciativa, em troca de um bilhete para assistir ao "Condomínio da rua", que é um espetáculo sobre a complexidade da exclusão social e da pobreza», disse à Lusa fonte do Teatro Nacional D.Maria II (TNDM).
A troca é feita na bilheteira e a entrada «está sujeita à lotação da sala».
Segundo nota do TNDM, a Comunidade Vida e Paz, que receberá os donativos, é uma organização constituída por cerca de seis centenas de voluntários que pretendem ir ao encontro de pessoas sem-abrigo, ou em situação de vulnerabilidade social, ajudando-as a recuperar a sua dignidade e a (re)construir o seu projeto de vida, através de uma ação integrada de prevenção, reabilitação e reinserção.
A peça sobe à cena no sábado às 21:00 e no domingo às 16:00, e estará em cartaz até ao dia 10 de fevereiro.
No sábado às 16:00, na sala Garrett deste teatro, com entrada livre, será exibido o documentário «Ruas da amargura» (2008), de Rui Simões. Trata-se de «um documentário sobre a vida de homens e mulheres, de todas as idades, com carências afetivas, financeiras, problemas mentais, alcoolismo, toxicodependência, ou simplesmente pessoas que chegaram a Portugal à procura de uma vida um pouco melhor», segundo a mesma nota.
«Condomínio da Rua» estreou-se no passado dia 17 e junta os seis atores que constituem o elenco do Nacional.
Em declarações à Lusa João Mota explicou que pretendia «uma peça em que os seis trabalhassem juntos, o que não acontece há mais de uma década, mas em que todos fossem protagonistas».
João Grosso, José Neves, Lúcia Maria, Manuel Coelho, Maria Amélia Matta e Paula Mora são os seis atores que constituem a companhia do Nacional e que encarnam diferentes «vidas de rua, pessoas sem-abrigo ou antes, sem amor, sem afeto».
João Mota destacou «o trabalho de investigação» feito por Nuno Costa Santos e pelos atores que escolheram os seus próprios figurinos.
«João Grosso, por exemplo, esteve no Hospital de Santa Maria a falar com esquizofrénicos, médicos, a ver os seus comportamentos», contou Mota.
A ideia da peça foi do encenador que a debateu com o psiquiatra Daniel Sampaio, que lhe indicou Nuno Costa Santos, argumentista e dramaturgo de 38 anos, autor de programas televisivos como «Melancómico», «Zapping» e «Serviço Público».
«Eu nem o conhecia, mas de facto fez um trabalho muito sério, pesquisou, visitou os espaços - a alguns fui com ele -, visitou associações, falou com os sem-abrigo, andou pela noite, e contou com consultoria de análise comportamental de Daniel Sampaio», disse João Mota.
LUSA