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Saude
Saúde: Prevenir para não remediar por Dr. Vladimiro Silva, embriologista
Dr Vladimiro Silva Foto: Divulgação
Redação Lux em 7 de Dezembro de 2015 às 16:04
Prevenir para não remediar - Dr. Vladimiro Silva, embriologista Clínico na Ferticentro
 
Estávamos em 1986. No mundo da ciência fazia-se história: em Portugal, nasceu a primeira criança na sequência de uma gravidez obtida por Fecundação in Vitro e, a nível mundial – e também nesse ano -, nasceu o primeiro bebé obtido a partir de um óvulo congelado. 

Demorou 27 anos até os tratamentos com óvulos congelados deixarem de ser considerados experimentais. Em 2013, a American Society for Reproductive Medicine publicou um relatório do seu Practice Committee em que se dizia textualmente que “existem provas científicas sólidas de que as taxas de fertilização e gravidez com óvulos criopreservados são semelhantes às que se obtêm com óvulos a fresco, em mulheres jovens”.

Esta pequena afirmação mudou tudo - várias outras sociedades científicas emitiram declarações semelhantes nos meses seguintes e, acompanhando o avançar da ciência, empresas como a Apple e o Facebook passaram a oferecer às suas funcionárias a possibilidade de criopreservarem óvulos para, caso um dia viessem a sofrer de infertilidade, os poderem utilizar no futuro.

A polémica estalou e muitos criticaram o carácter potencialmente coercivo desta possibilidade que, na perspectiva dos críticos, corresponderia a uma visão das mulheres apenas enquanto “unidades de trabalho”, cujo desejo de maternidade pode ser adiado em função de interesses profissionais superiores. Sendo certo que é inegável a tentação da visão tayloriana desta questão, é igualmente possível olhar para o copo meio cheio.

Hoje, as mulheres têm a possibilidade de escolher ou, pelo menos, de fazer escolhas reprodutivas menos pressionadas pelo relógio biológico e pelos factores sociais, educacionais, emocionais e financeiros que muitas das vezes condicionam ou determinam estas decisões. Actualmente temos as clínicas de fertilidade cheias de mulheres que recorrem à doação de óvulos porque há 10 ou 15 anos, quando os seus ovários ainda funcionavam, não lhes foi dada esta possibilidade. Se tal tivesse acontecido, estas mulheres seriam as suas próprias dadoras - e estariam a engravidar com os seus óvulos previamente congelados, que - com as modernas técnicas de vitrificação - mantêm praticamente intacto o respectivo potencial reprodutivo. É que engravidar com óvulos próprios aos 40 anos representa um risco de aborto espontâneo de cerca de 40%, enquanto que aos 45 esse risco dispara para 75%. Além disso, a estes problemas acresce ainda o risco de aneuploidias (alterações cromossómicas) - por exemplo, a incidência de trissomia 21 depende da idade dos óvulos e não da idade da mulher: uma mulher que engravide aos 45 anos com os óvulos que produz nessa idade tem um risco de 1:30 de ter um bebé com trissomia 21, enquanto que se engravidasse nessa mesma idade com os óvulos que tinha congelado aos 25 anos, esse risco seria apenas de 1:1300.

Da mesma forma que não devemos encarar os tratamentos que prolongam a vida como uma forma de podermos trabalhar mais tempo, também neste caso os avanços da Medicina estão aqui para nos ajudar e não como factor condicionante: neste caso, para ajudar as mulheres a viverem a sua vida de uma forma mais tranquila, menos pressionada, e com um - ainda que ligeiro - pequeno cheiro a igualdade de género.

O processo de congelação de óvulos é relativamente simples: a mulher começa por fazer as análises clínicas e ecografias necessárias para aferir a segurança do processo, iniciando de seguida o processo de estimulação ovárica.

Este dura cerca de 15 dias, durante os quais é necessário administrar medicamentos injectáveis e fazer análises clínicas e ecografias de acompanhamento. A recolha dos óvulos é feita sob sedação (uma anestesia geral que dura cerca de 10 minutos) e os óvulos devem ser vitrificados num centro com experiência nesta técnica, sendo este um passo crítico para a respectiva viabilidade.

Esta é uma técnica segura e que cada vez é mais utilizada em todo o mundo. Não é uma futilidade, é prevenir o que mais tarde pode não ter solução. E, como há dias me confidenciava uma doente, o que muitas mulheres não dariam para ter tomado esta decisão 10 anos antes de entrarem pela porta da nossa clínica…!
  
Ferticentro – Centro de Estudos de Fertilidade
Praceta Prof. Robalo Cordeiro (Idealmed)
Circular Externa de Coimbra
3020-479 Coimbra
Tlf. 239 497 280
E-mail ferticentro@ferticentro.pt
 
 
 
Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico
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