O livro Eu, Maria das Dores, me Confesso foi apresentado à comunicação social pela jornalista Virginia López, a profissional escolhida pela editora para auxiliar a autora na escrita do livro, e David Motta, filho de Maria das Dores, no El Corte Inglés de Lisboa, na sala de Âmbito Cultural.
Foi um dos crimes e julgamentos mais mediáticos de Portugal e Maria das dores ficou conhecida como “a socialite que mandou matar o marido para cobrar o seguro de vida” mas nunca confessou o crime.
Durante o julgamento, declarou-se inocente e culpou o motorista e o amigo como responsáveis pelo assassinato do empresário Paulo Pereira da Cruz, de 44 anos, no dia 20 de janeiro de 2007. Agora, é a Paulo que se dirige, em cartas inéditas publicadas no livro que assina a sua confissão.
“Errei. Tive cinco minutos de apagão, de bom senso e da lucidez. Porquê? Por ciúmes, falta de atoestima, revolta, solidão - um cocktial explosivo ao qual ainda juntava aqueles comprimidos para emagrecer com anfetaminas (...) Eu matei-te, Paulo, e agora estou nesta prisão que parece uma gaiola onde se respira mal (...) Na altura do homicídio, sentia-me impotente e incapaz de mudar. Quando pensava no futuro, só sentia vergastadas no meu braço que estava cortado a meio, amputado como a minha autoestima”.
Segundo David Motta, o filho mais velho, de um casamento anterior, e que representou Maria das Dores na apresentação do livro, o livro não serve qualquer propósito de “limpar” a sua imagem.
“A intenção da mãe não foi nunca branquear a imagem que as pessoas têm dela. Ela quis mostrar o seu arrependimento e explicar que por trás daquela personagem da da socialite que mandou matar o marido, há um ser humano, uma história e um conjunto de circunstâncias que levaram a minha mãe a cometer esse crime hediondo como ela o reconhece”.
O produtor de moda, a fazer carreira internacional entre Londres e Nova Iorque, evidencia que a mãe reconheceu o seu crime “há algum tempo em reclusão” e que a necessidade de registá-la chega também devido aos resultados preocupantes de alguns exames médicos feitso durante as saídas precárias trimestrais, (RAI, Regime Aberto ao Interior).
“Chegou aos 60 anos e não quero dizer que há negligência médica no sistema prisional mas havia uma série de exames médicos a fazer como biópsias e a mãe aproveitou as saídas precárias, que deveriam ser de reinserção social e não para cuidar da sua saúde porque isso é obrigação dos serviços prisionais, para fazê-los. O exame da mama tinha umas calcificações que a médica disse que havia uma grande probabilidade de serem malignas e então ela entrou numa espécie de reflexão ... ‘tenho 60 anos fiz o que fiz, o fim está perto e eu gostava de deixar algo ao meu filho mais novo’ “.
Admitindo o trauma que carrega desde que tudo aconteceu e lembrando que nunca mais teve contacto com o irmão, Duarte, filho de Maria das Dores e Paulo Pereira da Cruz, na altura com sete anos. “Hoje é um homem com 21 anos que não tenho a felicidade de conhecer. Sei que estuda medicina. É uma opção dele, se quiser ler o livro, e por respeito aos avós pode não ler agora, pode ler um dia mais tarde mas se tiver essa curiosidade e a se a mae já não estiver cá fica esse registo, essa tentativa de chegar até ele e pedir perdão qd ele quisesse. A mãe acha que está na iminência de partir e o livro é uma tentativa de chegar ao meu irmão e pedir perdão. É também ao filho Duarte que Maria das dores se dirige nas muitas cartas inéditas agora publicadas: “Duarte, perdoa-me. A minha sentença não é a prisão, é saber que, por aquilo que te fiz, não mereço voltar a ver-te”.