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Nacional
Pote de água por Tiago Salazar: 'Mundos Paralelos' e 'Juan Carlos em Tour'
Tiago Salazar
Redação Lux em 3 de Dezembro de 2020 às 10:00

por Tiago Salazar

MUNDOS PARALELOS
Por regra, estamos em crise. Andamos assim desde a pré-história, à cata de alimento, cavernas aprazíveis e a espantar a bicharada letal. Armados, bisonhos, à defesa do torrão. Há quem viva pobrete e alegrete. O pior é quando vigora a lei do porrete. Andamos, porém, todos a prazo. Esquecidos do imperativo categórico da decadência e extinção. Entrementes, os mais dotados de cuca e sentimentos fazem por deixar um legado digno de registo. Civilização, chama-se. Não importa se a obra se faz numa urbe desenvolvida ou num lugarejo de indígenas desnudos. Civilizar conduz a uma harmonia onde o diálogo é o fio condutor da evolução. Palavras afins de actos onde se vislumbra a preocupação pela alegria e expansão do semelhante como nas comunidades de pinguins. Os Trumps do mundo são tipos poluentes, apostados em fazer do opositor um reagente a eliminar. Ter como alternativa um Biden corrupto é pedir ao Diabo que escolha. Carecemos de modelos de virtudes no Olimpo terreno. Recorremos aos deuses para que nos acudam. Fazemos da desgraça um ritual de iniciação.

JUAN CARLOS EM TOUR
Faz parte da deambulação de um guia avisado discretear sobre tudo e um par de botas. Por exemplo, a relação do Estoril e arredores com os condes de Barcelona, o menino Juan Carlos, Ian Fleming, James Bond, Humberto Coelho, Cristiano Ronaldo, Oliveira Salazar, Gloria Swanson, Lord Byron, Aleister Crowley, Pessoa, Cristóvão Colombo, Damásio e Prieto ou Judas e um rol de iscariotes apostados em conspurcar as possibilidades de o paraíso ser um lugar de todos. Gosto de recuar ao tempo dos meninos e moços Juan e Francisco (Balsemão) e contar desses tempos de vela e sedução. Todos se pelam por uma boa história de alcofa ou de bandidagem. Tal como por um enredo bem urdido de espionagem e ajuste de contas. Tende-se a fazer dos afortunados um escol de meninos mimados a brincar aos ricos. De infantes a velhos sem tino. Do rei posto castelhano diz-se que ganhou o gosto pela vela e o gineceu nas águas do Atlântico, ao virar da esquina do Guincho. Poderá ter perdido a virgindade ao largo da praia da Ursa e aprendido as artes da sedução num molhe da Roca entre um par de ninfas. Viajar faz bem à imaginação e o público agradece uma história que meta lençóis, vales e manhas para se sentir acima dos reis e apaziguar a sua mortalidade triste. Tudo isto para dizer que deixem lá o Juan e os seus fardos. Usemos os dardos com outras ganas. Por exemplo, como preservar a riqueza do torrão ou repartir o bodo por forma a não esbarrarmos com a pobreza que é também do espírito.

(Crónica publicada na revista Lux 1074 de 30 de novembro)

Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico
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