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Expectativas em estética
Cirurgia plástica
Redação Lux  com João Anacleto em 6 de Março de 2011 às 12:11
Cada vez mais se fala em estética e em cirurgia estética, criando uma ideia globalizada das suas importância, facilidade, acessibilidade e necessidade.

É falso. É importante mas não obrigatória; a sua facilidade está intimamente relacionada com cada doente e com cada procedimento em si; a qualidade tem preço; e a necessidade deve ser ponderada entre a severidade do «defeito» e a expectativa em torno dos resultados.

Em tom de clarificação, poderemos, em primeiro lugar, tentar uma tarefa virtualmente impossível: definir o belo. A beleza, através do mundo que conhecemos, assume as mais variadas expressões, condicionadas culturalmente pelo olho do observador, com um espetro que varia entre a cara de um bebé, obras de arte, paisagens ou golos em jogos de futebol.

Beleza dá prazer olhar. Esse prazer está em nós, varia connosco. E seguramente varia com quem somos, de onde vimos e para onde vamos. Ao longo dos tempos, o seu único denominador comum será provavelmente a simetria.

A sociedade dos nossos dias valoriza cada vez mais o aspeto físico e, sobretudo, um estilo de vida de aparência jovem e saudável. Se per se este facto não acarreta nenhum mal, devemos não nos esquecer de que cada vez que foi imposto ao indivíduo um certo modelo de homem, quer na vertente física - pela sociedade e pelo Estado - quer na vertente espiritual - pela religião -, os resultados foram catastróficos. Assim, cabe ao médico, neste caso ao cirurgião plástico, desconstruir alguns mitos que a pressão da sociedade, com motivações claramente económicas, tem vindo a exercer sobre o ser humano - não temos de ser todos iguais, não temos de ser «perfeitos», não temos de ser eternos, não existem milagres estéticos. Cabe-nos gerir as expectativas dos nossos doentes. Não só não devemos ser todos iguais, como não podemos. Além de a beleza ser também diversidade, não é tecnicamente exequível através de quaisquer tratamentos médicos ou cirúrgicos tornar alguém igual a um outro. Não temos de ser perfeitos, não o somos nem nunca o seremos. Não existe perfeição e, se vier a existir, nunca será resultado de tratamentos médicos ou cirúrgicos. A cirurgia plástica, na vertente estética, serve para melhorar algumas das nossas imperfeições, tornando-nos mais coerentes com a imagem que temos de nós próprios.

Não somos nem vamos ser eternos. Citando Pulido Valente, acerca da pressão do Estado sobre a obesidade, «ninguém tem a obrigação de ser um espécimen em bom funcionamento».

Todos vamos envelhecer e cabe a cada um de nós decidir como o fazer. A cirurgia estética apenas pode adequar o envelhecimento físico, mais rápido, ao cognitivo, mais lento. Não existem «milagres estéticos». Cada vez que é anunciada uma redução dramática da silhueta, numa única sessão, sem esforço e sem dor, é falso. Cada vez que for anunciado um creme milagroso, que apaga todas as rugas da face ou que faz aumentar a mama numa copa, é falso. Nada se consegue sem esforço. Estamos a viver um tempo de desonestidade intelectual, tanto dos prestadores de serviços de «estética» como dos consumidores.

É possível, recorrendo à cirurgia e a tratamentos estéticos, obter resultados dramaticamente positivos, com impacto real na autoestima e na qualidade de vida dos pacientes, mas não mais do que isso. Para se aparentar um estilo de vida saudável é, na realidade, preciso levá-lo.
Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico
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