Aos 70 anos, António Pedro Vasconcelos, responsável por alguns dos filmes mais vistos em Portugal como «O Lugar do Morto», de 1984, «Jaime», de 1999, «Os Imortais», de 2003, e «Call Girl», de 2007, entre outros, está de volta com «A Bela e o Paprazzo». Nesta comédia romântica, um género não muito visto em Portugal, regressa também a sua actriz de eleição, Soraia Chaves, que faz par romântico com Marco D`Almeida.
Lux - Parece que, definitivamente, o António descobriu na Soraia Chaves a sua musa...
António Pedro Vasconcelos - (risos) Não se trata da minha musa porque não sou um poeta, mas é uma actriz com quem gosto muito de trabalhar. Ela tem tudo o que se espera de uma actriz ou de um actor. Tem aquilo a que os americanos chamavam o hit, aquela coisa mágica que alguns actores têm, uma empatia enorme com a câmara. É uma mulher muito bonita e, sobretudo e acima de tudo, é uma grande actriz. E nós temos e gostamos de trabalhar com um actor que nos dá algum conforto durante as filmagens. Ou seja, um actor a quem temos constantemente de estar a dizer tudo, a corrigir, ou se nos deixa na ansiedade de saber se nos vai ou não dar aquilo que pretendemos, é extremamente desgastante e um filme é um comboio de alta velocidade. É um TGV e não se pode estar constantemente a parar porque é caro, perturba... Se temos um actor que, todos os dias, chega ao plateau e sabemos que vai fazer bem o que pretendemos, é muito mais fácil. O Nicolau Breyner é outro desses, tal como Ivo Canelas... Aliás, teria feito facilmente de novo o filme com a Soraia e o Ivo mas não gosto de repetir pares.
Lux - E este é também um género de filme não muito visto em Portugal, que é a comédia romântica?
A.P.V. - Este é um tema que não podia ser tratado de outra maneira e eu sempre quis fazer um filme de género porque é algo que exige determinadas regras específicas.
Lux - E como é que surgiu a ideia?
A.P.V. - Acabou por estar relacionado com um sentimento que começou a crescer à volta dos meus actores, sobretudo a Soraia, por exemplo. Os actores começaram a ser assediados, perseguidos pelos paparazzos, e esse era um mundo que me escapava um pouco. Quis perceber melhor a avidez do público sobre o umbigo da vedeta.
Lux - E o que descobriu?
A.P.V. - Falei com actores e actrizes, directores de revistas, paparazzos... E percebi que se existe esse desejo é porque há mercado. As pessoas têm uma curiosidade, quase mórbida, de conhecer a vida dos ditos famosos. É um escape fácil e as pessoas ficcionam um pouco a vida dos actores. É claro que depois há os actores que vivem bem com isso e outros que não.
Lux - Tem sido, de certa forma, responsável por trazer uma certa lufada de ar fresco ao cinema português e fazer filmes que levam público às salas...
A.P.V. - O Cinema é uma arte popular e muito cara. Fazer filmes que as pessoas não vão ver não faz sentido. Tem de se respeitar o destinatário. Não faço filmes para o público mas não posso fazê-lo sem pensar se consigo despertar o interesse das pessoas e levá-las a ir ao cinema ver o filme.
Lux - Se não fá-lo para ver em casa com os seus amigos?
A.P.V. - (risos) Certamente e até o posso fazer com um telemóvel! Não cedo ao gosto do público mas o que quero dizer tem de ser ouvido por muita gente. É nisso que consiste o meu trabalho.
Lux - O «Call Girl» bateu recordes de audiência. Espera o mesmo de «A Bela e o Paparazzo»?
A.P.V. - Não penso em recordes de audiência mas, ao contrario de muita gente que diz que não, fico muito feliz ao ver que tanta gente quer ver o meu filme. Não há nenhum segredo: quero que as pessoas se riam quando é para rir e que se comovam quando a cena assim o exige. E, por isso, mesmo, estou à espera que muita gente vá ver «A Bela e o Paparazzo». Se me entreguei durante um ano a um trabalho, é gratificante saber que ele vai ser visto, serviu para alguma finalidade, e não ficou numa prateleira à espera de ser descoberto daqui a uns anos.