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Nacional
Evelise Moutinho  com Fotos: Artur Lourenço em 2 de Fevereiro de 2010 às 12:59
António Pedro Vasconcelos: «O Cinema é uma arte popular e muito cara»
Aos 70 anos, António Pedro Vasconcelos, responsável por alguns dos filmes mais vistos em Portugal como «O Lugar do Morto», de 1984, «Jaime», de 1999, «Os Imortais», de 2003, e «Call Girl», de 2007, entre outros, está de volta com «A Bela e o Paprazzo». Nesta comédia romântica, um género não muito visto em Portugal, regressa também a sua actriz de eleição, Soraia Chaves, que faz par romântico com Marco D`Almeida.

Lux - Parece que, definitivamente, o António descobriu na Soraia Chaves a sua musa...

António Pedro Vasconcelos - (risos) Não se trata da minha musa porque não sou um poeta, mas é uma actriz com quem gosto muito de trabalhar. Ela tem tudo o que se espera de uma actriz ou de um actor. Tem aquilo a que os americanos chamavam o hit, aquela coisa mágica que alguns actores têm, uma empatia enorme com a câmara. É uma mulher muito bonita e, sobretudo e acima de tudo, é uma grande actriz. E nós temos e gostamos de trabalhar com um actor que nos dá algum conforto durante as filmagens. Ou seja, um actor a quem temos constantemente de estar a dizer tudo, a corrigir, ou se nos deixa na ansiedade de saber se nos vai ou não dar aquilo que pretendemos, é extremamente desgastante e um filme é um comboio de alta velocidade. É um TGV e não se pode estar constantemente a parar porque é caro, perturba... Se temos um actor que, todos os dias, chega ao plateau e sabemos que vai fazer bem o que pretendemos, é muito mais fácil. O Nicolau Breyner é outro desses, tal como Ivo Canelas... Aliás, teria feito facilmente de novo o filme com a Soraia e o Ivo mas não gosto de repetir pares.

Lux - E este é também um género de filme não muito visto em Portugal, que é a comédia romântica?

A.P.V. - Este é um tema que não podia ser tratado de outra maneira e eu sempre quis fazer um filme de género porque é algo que exige determinadas regras específicas.

Lux - E como é que surgiu a ideia?

A.P.V. - Acabou por estar relacionado com um sentimento que começou a crescer à volta dos meus actores, sobretudo a Soraia, por exemplo. Os actores começaram a ser assediados, perseguidos pelos paparazzos, e esse era um mundo que me escapava um pouco. Quis perceber melhor a avidez do público sobre o umbigo da vedeta.

Lux - E o que descobriu?

A.P.V. - Falei com actores e actrizes, directores de revistas, paparazzos... E percebi que se existe esse desejo é porque há mercado. As pessoas têm uma curiosidade, quase mórbida, de conhecer a vida dos ditos famosos. É um escape fácil e as pessoas ficcionam um pouco a vida dos actores. É claro que depois há os actores que vivem bem com isso e outros que não.

Lux - Tem sido, de certa forma, responsável por trazer uma certa lufada de ar fresco ao cinema português e fazer filmes que levam público às salas...

A.P.V. - O Cinema é uma arte popular e muito cara. Fazer filmes que as pessoas não vão ver não faz sentido. Tem de se respeitar o destinatário. Não faço filmes para o público mas não posso fazê-lo sem pensar se consigo despertar o interesse das pessoas e levá-las a ir ao cinema ver o filme.

Lux - Se não fá-lo para ver em casa com os seus amigos?

A.P.V. - (risos) Certamente e até o posso fazer com um telemóvel! Não cedo ao gosto do público mas o que quero dizer tem de ser ouvido por muita gente. É nisso que consiste o meu trabalho.

Lux - O «Call Girl» bateu recordes de audiência. Espera o mesmo de «A Bela e o Paparazzo»?

A.P.V. - Não penso em recordes de audiência mas, ao contrario de muita gente que diz que não, fico muito feliz ao ver que tanta gente quer ver o meu filme. Não há nenhum segredo: quero que as pessoas se riam quando é para rir e que se comovam quando a cena assim o exige. E, por isso, mesmo, estou à espera que muita gente vá ver «A Bela e o Paparazzo». Se me entreguei durante um ano a um trabalho, é gratificante saber que ele vai ser visto, serviu para alguma finalidade, e não ficou numa prateleira à espera de ser descoberto daqui a uns anos.
Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico
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