Aos 52 anos, Isabel Jonet é também presidente da Federação dos Bancos Alimentares contra a Fome, que ajuda cinco milhões de pessoas em 21 países da Europa.
«Não quero ver em Portugal o que vi na Grécia, onde estou a preparar o BA e onde há tanta miséria que nem se encontram medicamentos para doentes crónicos, onde falta o gás e a luz, onde escasseia a comida nos supermercados», disse ainda na declaração.
Ciente da miséria que se vive na Europa, Isabel Jonet afirma que é preciso «repensar o modelo» para «assegurar a sustentabilidade» do Estado Social.
O facto de ser católica e oriunda de uma família privilegiada colocou-a no centro de um fogo cruzado, relegando para segundo plano o seu papel como a maior ativista portuguesa contra a pobreza. O marido chama-lhe, na brincadeira, a «educadora do povo» por causa da sua luta contra o desperdício.
«Odeio viver rodeada de consumismo e desperdício», disse há alguns anos à revista Visão.
Os cinco filhos, a mais nova tem 11 anos, sabem desde pequenos que não devem deixar a água a correr enquanto lavam os dentes e que é proibido deitar os restos do jantar para o lixo. Os mais novos recolhem, todas as manhãs, nas pastelarias locais, o pão e os bolos que sobraram do dia anterior para entregar no Banco Alimentar. Todos conhecem a importância da palavra solidariedade. A mais velha é médica e Francisco, formado em Gestão, esteve um ano como missionário no Burundi.
«O que me faz ser voluntária não tem a ver com apaziguamento de consciência. Para mim, este tipo de vida que eu tenho hoje em dia, esta opção que eu fiz, é uma missão», disse numa entrevista ao Jornal de Notícias em 2007.
Apesar de poder optar por uma vida tranquila e despreocupada, Isabel Jonet escolheu ajudar. Mas sem nunca esquecer a família. «Os meus filhos são a minha prioridade», garantiu à revista Seleções do Reader`s Digest, pouco tempo antes de estalar a polémica.
Trabalhadora incansável, soube sempre conciliar a vida familiar com a profissional. «Tive cinco filhos e são todos bons. São bons alunos, têm imensa saúde, eu recebi muito na minha vida e por isso é que tenho tanta possibilidade de dar, tenho uma família maravilhosa. (...) Acho que quando as pessoas têm a sorte de ter uma família equilibrada, onde o amor flui com facilidade, onde há saúde e onde a vida corre razoavelmente, tudo o resto se vai encaixando, com mais ou menos esforço. Se a família caminhar no mesmo sentido, há mais tempo para tudo», contou ao Boletim Salesiano.
Determinada e muito organizada, a presidente do Banco Alimentar sabe que o seu trabalho diário na luta contra a pobreza faz a diferença. Lida com realidades duras e difíceis todos os dias, mas mantém-se otimista. A sua canção preferida, «Wonderful World», de Louis Armstrong, é disso exemplo. «A pobreza é uma coisa má, que nós temos que combater e puxar para cima» disse ao JN.