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Nacional
Isabel Jonet: a mulher por detrás da polémica (I)
Isabel Jonet (LUSA)
Natália Ribeiro em 7 de Dezembro de 2012 às 16:34
O seu maior desejo é que o Banco Alimentar Contra a Fome feche. «Era sinal de que já não era preciso», não se cansa de dizer.

Isabel Jonet trabalha em regime de voluntariado no Banco Alimentar Contra a Fome desde 1993. Foi nesse ano que regressou a Portugal, depois de vários anos a viver em Bruxelas.

Licenciada em Economia, chegou a trabalhar numa seguradora, mas quando o marido, o jornalista Nuno Jonet, foi destacado para ir trabalhar para Bruxelas, Isabel fez as malas e acompanhou-o. Já tinha tido a primeira de cinco filhos. Na Bélgica, trabalhou para o Comité Económico e Social da União Europeia e nos tempos livres dava aulas de culinária portuguesa. O casal regressou a Portugal em 1994, já com três filhos.

Para que a família se adaptasse à vida em Portugal, Isabel Jonet tirou um ano sabático e decidiu tornar-se voluntária no Banco Alimentar. Dispensava duas tardes por semana à instituição privada de solidariedade social, mas aquela rapidamente se tornou a sua segunda casa. Um ano depois, era convidada para assumir a presidência do Banco Alimentar, lugar onde se mantém.

Ajudar os outros está-lhe no sangue. Até aos 5 anos, viveu com a família numa quinta no Alentejo e cresceu com um pai sempre muito atento às necessidades dos seus trabalhadores. «Fiz voluntariado desde os 12 anos. E foi assim que eduquei as minhas crianças também», contou à revista Selecções do Reader`s Digest no início deste ano, quando recebeu o Prémio Europeu do Ano Reader¿s Digest para 2012.

Em quase 20 anos de trabalho árduo no Banco Alimentar, Isabel Jonet nunca foi remunerada. Trabalha em regime de voluntariado, tal como as 250 pessoas que diariamente contribuem para o sucesso da instituição. «Isso é mesmo importante. A pessoa que as dirige é uma delas, por isso as pessoas que aqui trabalham não têm de acatar ordens de um profissional», defende na mesma entrevista. Gosta de dirigir pelo exemplo e com a porta aberta para toda a gente.

Só este ano, o Banco Alimentar espera matar a fome a 330 mil pessoas em Portugal. Sem ajudas do Estado, mas com a solidariedade de cadeias de supermercados, cooperativas agrícolas e negociantes do mercado grossista que doam a comida que não conseguem vender. E com a ajuda dos portugueses, nas habituais campanhas à entrada dos supermercados.

«Em cada dia recebo muito mais do que aquilo que dou», reconhece em entrevista ao Boletim Salesiano, em 2010. A obra de Isabel Jonet fala por si, mas as suas controversas declarações na semana passada na SIC Notícias envolveram-na numa polémica sem precedentes, que levou mesmo à criação de um grupo no Facebook que exigia a sua demissão.

Frases como «não existe miséria em Portugal», «vamos ter de aprender a viver mais pobres» e «se não temos dinheiro para comer bifes todos os dias, não podemos comer bifes todos os dias» inflamaram as redes sociais e incendiaram a opinião pública. Bastaram seis minutos na televisão para pôr em causa um percurso invejável na área da solidariedade, reconhecido com vários prémios. Opositores e defensores esgrimiram argumentos na Internet e nos meios de comunicação social ao ponto de Isabel Jonet ter vindo a público justificar as suas palavras.

«Interpretaram parcialmente o que foi sendo comentado, descontextualizando totalmente o que expressei», disse numa crónica na Rádio Renascença. Lamentou que as suas declarações tenham magoado alguém, mas reiterou a ideia de que os portugueses têm de mudar hábitos. «Não estava a falar para os mais pobres, ou a dizer que são os pobres que têm de se habituar à pobreza. Como gostaria que dela pudessem sair, certa de que para isso é imprescindível crescimento económico. Não tenho medidas políticas para erradicar a pobreza do mundo; se tivesse, era política; e não sou. Só faço o que posso numa área específica e com uma forma concreta», declarou.

(continua aqui)
Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico
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