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Nacional
Valter Hugo Mãe fez argumentos de banda desenhada
Valter Hugo Mãe Foto: Lusa
Redação Lux em 26 de Outubro de 2013 às 09:54
O escritor Valter Hugo Mãe fez os argumentos para algumas histórias de banda desenhada de Agonia Sampaio, autor premiado, e diz: «É pena que a vida lhe tenha boicotado o talento».

«Continuo a desenhar. É como se fosse uma terapia para mim, faz-me bem, estou sempre a inventar histórias novas», conta Agonia Sampaio autor de bandas desenhadas a preto e branco, com um desenho muito trabalhado, quase sempre tendo a natureza como elemento central.

Agonia Sampaio, de 43 anos, é hoje um dos utentes do Fórum Sócio Ocupacional do Magalhães Lemos em Vila do Conde, próximo do convento de Santa Clara, onde tem conseguido quebrar o isolamento a que problemas de ordem psíquica o confinam.

«Estava no segundo ano de engenharia publicitária. Tive um esgotamento e tive que interromper os estudos», lembra.

Ainda se inscreveu em desenho na Cooperativa Árvore, mas viu «que não estava com cabeça para estudar». Foi trabalhar à noite no Casino da Póvoa, mas também não aguentou. «Estava sempre a ter recaídas». Reformou-se.

Nunca deixou a banda desenhada a que foi levado um dia por um professor. Foi na década de 1990 que, um dia, decidiu abordar na rua o seu conterrâneo e pedir-lhe argumentos para desenhar. Na altura, o escritor de «A desumanização», editado este mês, era ainda pouco conhecido somente com livros de poesia publicados.

«Tentei ir ao encontro do universo dele, um universo mais ou menos infantil», lembra Valter Hugo Mãe à Lusa. «O espaço de conforto dele tem a ver com as selvas, a natureza, os animais e foi o que creio que acabei por fazer, algum tipo de argumentos que usassem essa mundividência».

Os três argumentos estão no livro «A maior prova de Amor» um dos vários que Agonia Sampaio publicou. Em 1986, aos 16 anos, ganhou no Seixal o 3.º prémio de um concurso a nível nacional e, em 1987, conquistou o do Comicarte do Porto (2.º prémio), os primeiros prémios do Clube Português de BD de Lisboa e de um concurso em Orense.

Em 1990 e 1991, vence o prémio Rafael Bordalo Pinheiro e em 1992 o 1.º prémio em Moura, publicando a sua banda desenhada em várias fanzines e em jornais, nomeadamente em O Comércio do Porto, de que foi colaborador regular.

«Lembro-me de o ver como um jovem perfeitamente normal, um jovem brilhante, aluno absolutamente incrível que, no fim da juventude, acabou por ter uma espécie de esgotamento», recorda Valter Hugo Mãe.

«É pena que a vida lhe tenha boicotado o talento».

O autor não mantém o contacto com o desenhador, mas enquanto fala ao telefone com a Lusa repara que «ao lado da secretária, na parede», tem um desenho que ele lhe fez e lhe dedicou, em 1998. «Às vezes habituamo-nos às coisas e nem temos noção».

Agonia Sampaio nunca foi internado devido ao seu distúrbio psíquico graças ao acompanhamento que a mãe ainda hoje lhe dá. Nos últimos anos, o Fórum foi «a coisa melhor» que lhe aconteceu, encontrar uma série de atividades com outros pacientes seguidos em regime ambulatório, em vez de «andar de café em café».

«Estas pessoas estão reformadas por doença, em casa, sem fazer nada, e uma das alterações que têm é a dificuldade de atenção e concentração. Uma das coisas que o centro faz é incentivar essas capacidades, se não as melhorar pelo menos para as manter», explica enfermeira Márcia Sousa, uma das responsáveis do Fórum.

As bandas desenhadas de Agonia Sampaio, que se confessa admirador de Astérix, não alteraram muito o estilo ao longo dos anos. É capaz «de estar três, quatro horas a desenhar» as histórias que publica ocasionalmente em alguns jornais, em fanzines e as ilustrações que faz da vida de santos para uma editora religiosa.

«Basta ver uma imagem, um postal e surge assim uma história simples, para crianças e adolescentes», afirma Agonia Sampaio. Com a Natureza «como fundo», gosta de fazer «histórias com namorados, um estilo de história lírico, com um desenho muito trabalhado».

Lusa
Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico
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