João Braga celebrou no passado domingo 45 anos de carreira com um concerto muito especial no Auditório da Fundação Champalimaud, em Lisboa.
Casa cheia, dividida entre o seu público mais fiel e amigos do fadista que, na plateia ou em cima do palco, fizeram questão de aplaudir o seu percurso artístico e profissional.
Em Dia de São João, este sportinguista de gema, de 67 anos, mostrou-se radiante no final do espetáculo. «Resumo a minha carreira com aquilo que se passou hoje no palco deste auditório. O fado vai direito ao coração das pessoas porque fala dos momentos que levamos da vida, e quando isso acontece é porque em palco somos tocados por aquilo que estamos a cantar... pelas palavras e pela música», explica João Braga à Lux.
«A emoção que sentimos passa para a assistência, que responde com bravos, palmas e com caras sorridentes. É uma permuta de emoções», garante o fadista.
Na plateia, amigos de longa data e colegas na arte de bem cantar o fado - reconhecido pela UNESCO como Património Imaterial da Humanidade - festejaram com João Braga os mais de 30 discos editados e os muitos espetáculos que marcaram a sua carreira.
João Braga estreou-se em público aos 9 anos na capela do Colégio São João de Brito e o fado sempre foi a sua grande paixão. A emoção com que entoa o «cântico» da alma tornou-se inspiração para as novas gerações de fadistas, «jovens com talento e qualidade, que assim saíram do anonimato para se transformarem em grandes nomes da música fadista».
Cuca Roseta, Maria Ana Bobone, Miguel Capucho e Rodrigo Costa Félix partilharam o palco com o «mestre», o fadista a quem carinhosamente atribuem o estatuto de «padrinho».
«Não gosto desse apelido por causa do Francis Ford Coppola que fez o filme O Padrinho, uma personagem execrável. Não o Marlon Brando, coitado, mas o padrinho propriamente dito, o Don Corleone. Prefiro que me chamem «patrono», disse João Braga, entre sorrisos. «Mestre é também um bocadinho pretensioso, porque eu não os ensinei a cantar. Dei-lhes umas dicas, mas eles já cantavam muito bem quando chegaram ao pé de mim. E foi por isso que, apesar de terem 18 ou 20 anos, lhes dei visibilidade em programas e espetáculos, pela primeira vez junto do grande público», garante João Braga, fã incondicional da diva Amália Rodrigues. Foram duas horas de fado que invadiu os corredores da Fundação António Champalimaud. A representar a família esteve Maria Luísa Champalimaud, admiradora e amiga do fadista: «Foi excelente e é para repetir.» A presença de Manuel Alegre também foi notada, e João Braga recordou a sua poesia através da sua voz. «Gostei imenso e esta comemoração é muito merecida. São muitos os momentos marcantes que vivi ao lado do João. Falamos muito sobre fado e por vezes saem muitos poemas que ele canta», elogiou o poeta e político português.
João Braga dedicou os seus 45 anos de carreira ao público, o «único» e o «melhor patrocinador» que poderia ter tido ao longo destas quase cinco décadas. E se o futuro a Deus pertence, como dizem, então João Braga assume que ainda tem muito por conquistar: «Quando eu não me sentir com a mesma pica, e passo o calão, que senti hoje aqui neste palco, discretamente entro nas boxes e, sem alarme ou dramas, dou por encerrada a sessão. O que está feito está feito. O que me atrai e me entusiasma é o que ainda está por fazer.»