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Redação Lux em 16 de Dezembro de 2020 às 12:33
Saúde: 'Não “mascarar” a saúde oral', por Esmeralda Martins, médica-dentista
1/1 - Dra. Esmeralda Martins, Médica-dentista Clínica Milénio

Não “mascarar” a saúde oral

Na realidade atual, o uso de máscaras faz parte da responsabilidade coletiva para o combate à pandemia. Em termos psicológicos, face à ameaça do vírus, o seu uso aumenta o sentimento de segurança e controlo e funciona como mecanismo de defesa contra a ansiedade, aumentando a coesão social. No plano da comunicação interpessoal - da máscara teatral grega, às máscaras alongadas com forma de bicos de pássaros usadas pelos médicos durante a Peste Negra na Idade Média, às máscaras antipoluição vulgarizadas na cultura japonesa, para não falar nas culturas árabes onde os niqabs e burkas são obrigatórios - a ausência da visualização das expressões faciais é um facto, uma consequência intencional ou involuntária, que só é colmatada por uma atenção a outros sinais, nomeadamente a expressão do olhar. Na minha prática como dentista, há já uns anos que optara por substituir a máscara por uma viseira transparente porque considerava que a máscara tradicional, tapando a expressão facial, não potenciava a interação necessária com os meus pacientes e desta forma, deixando a face a nu, transmitia maior confiança e empatia. Na nova “normalidade”, são os pacientes que nos chegam de máscara e não deixo de notar que essa proteção necessária quebra a comunicação deixando-me a adivinhar, pela gesticulação, pelo uso das sobrancelhas e pelo olhar, o estado de ânimo dos pacientes e a verdadeira expressão das suas preocupações. Da mesma forma que não reconhecemos às vezes, à primeira vista, um vizinho no prédio, um amigo que passa na rua… É uma nova realidade que aprenderemos a contornar para que não nos distanciemos do lado mais humano. Se a máscara não nos deixa ver um sorriso que transmite calor e afeto, aprendemos a traduzi-lo por uns tracinhos franzidos no canto dos olhos e juntamos as mãos em sinal de agradecimento. Este acessório vital de proteção que são as máscaras, usadas em qualquer ambiente social de interação, acabam por estar a esconder também, muitos problemas de dentição dando assim uma falsa sensação de bem-estar e ajudando, no caso de muitos, a procrastinar a ida ao dentista. “Olhos que não vêem, coração que não sente”, mesmo que haja desconforto ( e a verdade é que há, uma moinha num dente, uma gengiva que sangra) … assim encontro muitos pacientes que escudaram nos últimos meses falta de dentição, fraturas e problemas de infeção nos dentes e gengivas com a “privacidade” de uma máscara. A barreira física, que é vital para nos protegermos do vírus acaba por funcionar como uma muleta para “varrer para baixo do tapete” problemas que não deveriam ser negligenciados. A este problema de camuflagem, acresce ainda que o próprio uso de máscaras, principalmente para os que na sua vida profissional são obrigados a usá-las em permanência ( o que envolve todos os que trabalham em contacto com o público, de vendedores de loja, pessoal que trabalha na restauração, cabeleireiros ao pessoal médico), tem feito agravar problemas orais, nomeadamente o surgimento de cáries e problemas gengivais. Se para muitos, a máscara traz este problema novo, para os que a usam para esconder fragilidades, agrava substancialmente o estado de saúde da boca. Já surgem, inclusivé, referências ao fenómeno como “mask mouth” (boca de máscara). Esta designação é inspirada no nome “meth mouth” (boca de metanfetamina) pelas consequências devastadoras que os seus dependentes apresentam na saúde oral, caracterizadas por cárie dentária severa e doença gengival, que frequentemente faz com que os dentes partam ou caiam. Crê-se que o uso da máscara prolongado aumenta a respiração pela boca, em detrimento da respiração nasal, causando secura resultante da diminuição de saliva. Ora, tendo a saliva propriedades anti-bacterianas e de neutralização da acidez, a sua diminuição proporciona a colonização bacteriana e inflamação gengival. No consultório, tenho constatado um aumento de doenças nas gengivas e cáries, em franco crescimento desde o início do uso de máscara. Estes problemas, a manifestarem-se, não devem pois ser “mascarados” e exigem consulta ao dentista. Alerto para o facto de que a doença gengival - ou doença periodontal - acabará por levar a um risco aumentado de ataques cardíacos. Um dos sintomas para o qual chamo a atenção é o mau hálito. Se por um lado, a máscara também faz a barreira para o outro, as pessoas que a usam ganham consciência do seu hálito e, nesse sentido, tornam-se, desejavelmente, mais atentas à sua higiene oral, pois o mau hálito do próprio não se mascara mas pode e deve ser tratado na sua origem. Mesmo em épocas de pandemia, na vida há sempre uma altura em que temos de tirar a máscara e enfrentar os problemas, neste caso específico, cuidar da saúde oral.

Dra. Esmeralda Martins

Médica-dentista

Clínica Milénio

Rua Manuel Silva Leal, 11-C 1600-166 Lisboa

t +351 217 277 265

f +351 217 277 264

e.geral@clinicamilenio.com

www.facebook.com/Esmeraldamartinsdentista

 

 

Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico
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