A personalidade e parte do percurso do treinador português José Mourinho parece ter inspirado a obra «O intruso», do escritor Daniel Vázquez Sallés, que usou o futebol para falar sobre a ambição humana.

Segundo o autor, que descreve a personagem principal como «um alpinista entre os alpinistas», o livro é uma sátira «dirigida a todos os leitores que gostam de futebol, mas também a quem não gosta, mas que se quer divertir».

No livro, o escritor catalão conta a vida de Marcial Cárdenas, um homem que teve alguns êxitos literários na juventude e que acaba por ser contrato pelo FC Barcelona para ser tradutor do novo treinador da equipa de futebol, o escocês Arthur McBride.

Com o passar do tempo, e apesar de não ter grande interesse no futebol, Cárdenas acaba por se tornar no melhor treinador do Mundo, numa altura em que Lionel Messi e Pep Guardiola já fazem parte do passado.

O autor assegura que, à exceção dos futebolistas, «nenhum dos outros protagonistas se interessa por futebol, usando-o apenas como trampolim para outras estruturas que lhes parecem mais interessantes».

Confrontado com as semelhanças entre Cárdenas e Mourinho, o escritor admite que o protagonista da sua história podia partilhar com o técnico português «a egolatria desmedida», mas garante que a personagem é uma criação literária.

Vázquez Salles descreve o seu livro «como a história de um cabrão que segue um processo de metamorfose e que acaba por se considerar um deus, sem ter em conta os verdadeiros deuses que são os futebolistas».

Para o escritor, Cárdenas é ainda alguém capaz de dizer coisas desagradáveis sobre as mulheres e que evidencia falta de escrúpulos em determinadas situações.

«Odeio Marcial Cárdenas, mas uma personagem assim não se consegue travar», afirma.

No que se refere ao presidente do FC Barcelona retratado na obra, Clemente Muniz, um nonagenário com um discurso muito parecido ao de José Luiz Nunez, o autor assume que existem características semelhantes como o homem que presidiu ao clube durante duas décadas, como o facto de «se incomodar com tudo o que é demasiado intelectual».

LUSA