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Crianças
Hiperactividade e as raparigas 
Crianças
Redação Lux  com Matilde Passanha em 15 de Maio de 2010 às 09:13
Quando pensamos em Perturbação de Hiperactividade e Défice de Atenção (PHDA), surge-nos imediatamente a imagem de um rapaz mexido e malcomportado. No caso das raparigas é diferente, pelo perfil inerente ao género. São menos rebeldes ou desafiantes, menos impulsivas ou agitadas, geralmente não tão ¿difíceis¿, tornando por isso o diagnóstico ainda mais complexo.

Estas raparigas são frequentemente deixadas «à deriva», apresentando um rendimento abaixo do seu potencial, ainda que mediano ou «satisfatório». Este aspecto pode camuflar e dificultar o diagnóstico. Quanto mais inteligentes, mais tarde manifestam as dificuldades características da perturbação, pois só com o aumento da exigência as suas fragilidades se tornam evidentes.

As raparigas com défice de atenção não se comportam todas da mesma maneira. As «maria-rapaz» são fisicamente activas, atraídas por tudo o que implique risco, como subir às árvores.

Gostam de brincar com rapazes, sentindo-se menos atraídas por actividades tipicamente femininas. Desorganizadas por natureza, podem sair a correr porta fora para a próxima actividade, deixando para trás tudo desarrumado. Os pais e professores destas raparigas percepcionam-nas como indisciplinadas e pouco dedicadas às tarefas escolares. Por outro lado, as «sonhadoras acordadas» - que passam muitas vezes despercebidas - são geralmente tímidas, lentas e esquecidas, perdem-se nos seus pensamentos e apresentam um comportamento calmo. Parece que estão a ouvir a professora, e no entanto os seus pensamentos estão longe da aula. No momento de fazer os trabalhos de casa, continuam silenciosamente a «sonhar acordadas», sentadas à frente dos trabalhos sem os realizar.

Podem desenvolver outras perturbações, como depressão ou ansiedade, e por vezes serem consideradas menos «brilhantes» do que são na realidade. Por fim, surgem as «tagarelas», uma combinação das desatentas com as hiperactivas/impulsivas. Estas raparigas têm um nível mais elevado de actividade do que as «sonhadoras acordadas», contudo não são necessariamente «maria-rapaz».

São muito faladoras, excitáveis e vivem intensamente as suas emoções. Conversam constantemente nas aulas, e têm dificuldade em permanecer caladas mesmo quando são repreendidas.

Interrompem os outros e saltam de assunto em assunto durante uma conversa. É-lhes difícil resumir uma história ou filme. Por vezes, interrompem-se a si mesmas ou contam as histórias de uma forma muito confusa, porque têm dificuldade em organizar o seu discurso.

Socialmente, são líderes, activas e divertidas. As suas amizades podem ser vividas de uma forma muito dramática, cheias de reacções excessivas e discussões, assim como podem adoptar uma personalidade «tonta», pela dificuldade em se organizarem e esquecendo-se do que têm de fazer. Durante a adolescência, podem apresentar rendimento escolar baixo por se tornarem hiper-sociáveis e desinvestirem nos estudos.

Como foi referido, grande parte da população feminina com PHDA não está identificada, e «sofre em silêncio», sem alcançar o seu potencial máximo, o que conduz a sentimentos de frustração constantes.

O custo social é elevado, os problemas de socialização têm início na idade pré-escolar e tendem a piorar se não houver intervenção, atingindo o auge na adolescência. O facto de algumas terem poucos amigos e de serem frequentemente excluídas contribui para uma auto-estima muito baixa, que se pode prolongar pela vida adulta.

O programa de intervenção mais eficaz com estas raparigas passa pela conjugação de acompanhamento psicológico com a intervenção farmacológica. A psicoterapia deve ter como objectivo trabalhar estratégias que promovam uma boa adaptação aos diferentes contextos de vida, mas deve incidir essencialmente na promoção da auto-estima, tão frequentemente afectada nestes casos.
Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico
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