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As Apneias do Sono e a disfunção eréctil
José Monteiro Ferreira Foto: Divulgação
Redação Lux em 20 de Abril de 2015 às 15:01

Uma apneia do sono consiste numa paragem da respiração com mais de 10 segundos. O tipo mais frequente é chamado obstrutivo porque ocorre por obstrução ou oclusão das vias aéreas superiores. Podem ocorrer centenas de apneias por noite. As consequências mais imediatas são quedas intermitentes e repetidas dos níveis de oxigénio no sangue e curtos acordares, de que se não tem consciência nem memória. As primeiras desencadeiam lesões inflamatórias progressivas muito especialmente das paredes arteriais. Os microacordares interferem com a evolução normal do sono, frequentemente com sinais clínicos de menor repouso, mais sonolência diurna e mais fadiga.

O exame específico para o diagnóstico da apneia do sono é a polissonografia (PSG). As alterações na PSG e as expressões clínicas e complementares constituem a Síndrome de Apneias Obstructivas do Sono (SAOS). A sua prevalência, seguramente subestimada, ronda os 4%, ou seja, haverá, pelo menos, 400 000 portugueses com SAOS, com predomínio nos homens com mais de 45 anos, a maior parte com excesso de peso ou obesidade, muitos com elevada probabilidade de redução da testosterona, hormona fundamental para a sexualidade e fertilidade masculinas.
A erecção é o resultado da permanência de maior quantidade de sangue nos vasos do pénis (corpos cavernosos). É um processo eminentemente neuro-vascular. Se houver lesões da parede dos corpos cavernosos pode surgir, “a incapacidade de atingir e manter ereção de modo a se consumar um acto sexual”, ou seja, a disfunção eréctil (DE).

A prevalência geral da DE em Portugal está estimada em cerca de 13%, com valores progressivos com a idade. Dos 40 aos 69 anos aproxima-se dos 50% e se tiverem SAOS pode ascender a 64%.

Esta relação aconselha a que se inclua no processo de diagnóstico da DE o esclarecimento da existência de SAOS e vive versa, nos doentes com SAOS é importante saber se têm DE, sem tabus.

A DE afecta profundamente a vida dos homens e das pessoas com quem partilham a sua vida sexual, frequentemente com elevados níveis de ansiedade e depressão, quiçá contribuindo para perpetuar a DE.

Recentemente demonstrou-se que a DE pode antecipar lesões vasculares nas artérias coronárias pelo que a detecção de DE deve ser vista como um sinal de risco, progressivo, de incidentes isquémicos cardíacos, com risco de vida.
Portanto, há que ligar às SAOS, principalmente às mais graves, o risco vascular e a DE. O diagnóstico médico rigoroso é fundamental. A estratégia de tratamento destas situações deve ser criteriosa, caso a caso, e interdisciplinar.

A ventilação com CPAP (Pressão Positiva Continua na Via Aérea) todas as noites é o tratamento “gold standard” dos doentes com SAOS mais graves, com melhoria significativa da DE em muitos doentes que têm ambas.

O uso de medicamentos para a DE deve ser sempre apoiado em parecer médico sabendo-se que a associação da CPAP com estes fármacos tem apresentado resultados superiores aos de cada tratamento isolado.
A especificidade da doença coronária obriga a controlo especializado próprio.
 
José Monteiro Ferreira
Médico pneumologista, Mestre em Medicina do Sono pela FM Lisboa, Somnologista Europeu pela Sociedade Europeia de Investigação do Sono (European Sleep Research Society).
Clínica CEDRA, Unidade Hospitalar de Coimbra da IdealMed
Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico
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