PUB
PUB
Notícias
Redação  com Irene Pinheiro em 26 de Maio de 2009 às 03:00
«Monólogos da Vagina» regressam ao palco, em Lisboa (vídeo)
Redação  com Irene Pinheiro em 26 de Maio de 2009 às 03:00
«Vagina. Digo vagina porque aquilo que não dizemos, nem reconhecemos torna-se segredo e este cria vergonhas, mitos e medos».

A actriz São José Correia diz «vagina» porque é o tema central dos monólogos que deixaram de ser exclusivos de uma só actriz. Três cadeiras e três microfones recebem Ana Brito e Cunha, Guida Maria e São José Correia num palco iluminado por três focos de luzes vermelhas para falar de ... vaginas!

À procura de medos, fantasias, dramas e insatisfações femininas nasceram os «Monólogos da Vagina», resultado de 200 entrevistas realizadas por Eve Ensler a mulheres de todo o mundo.

Mulheres novas, velhas, pretas, brancas, caucasianas... Todas elas tinham relutância em falar mas quando falavam ninguém as conseguia calar.

Ana Brito e Cunha assume, em palco, o papel dessa jornalista que conseguiu convencer dezenas de mulheres a falar das suas vaginas. Vagina ou outro sinónimo qualquer.

Passarinha, crica, racha, patareca, pita, «cenaita» e bacalhau são alguns dos termos que arrancam o riso à plateia para definir, afinal, aquilo de que se fala.

A linguagem é explicita, sem ser ordinária, porque a mensagem é forte. Segundo Ana Brito e Cunha «quando se fala em vagina pensa-se em algo erótico/pornográfico. Nesta peça fala-se dela tanto em tom prazeroso como o caso do nascimento dos bebés, como de histórias de violações. E isso é denso. É sério!»



Alguns dos monólogos são entrevistas textuais. Outros o cruzamento de várias entrevistas e outros, ainda, o resultado da imaginação da autora. Todos somados falam do prazer, das infelidades conjugais, da menstruação, de violações, de partos e até de terapias de grupo. Um dos monólogos é inspirado num dos wokshops organizado por Betty Dotson, uma mulher que anda, há 25 anos, a ajudar as mulheres a localizar e a amar as suas vaginas

Mas o desafio de falar da intimidade de outras pessoas nem sempre é fácil: «Trata-se de monólogos que exigem um discurso directo para o público sobre temas muito íntimos. Não é a minha intimidade que está ali a ser tratada. Represento a intimidade de uma série de mulheres», admite São José Correia.

Já simular um orgasmo em palco é para a actriz um divertimento: «É complicado (risos!) mas tenho a ajuda da Ana Brito e Cunha que também me ajuda, mas seguramente que não é parte mais difícil. É até divertido».

Guida Maria protagoniza um dos monólgos mais intensos da peça. A história dramática de uma mulher feita prisioneira num campo de concentração na Bósnia. Em 1994 e em plena Europa foram violadas milhares de mulheres em nome de uma «estratégia sistemática de guerra».

A actriz declama um poema que conta essa história trágica. O momento intenso termina com a projecção das fotos de algumas dessas mulheres.

Guida Maria assume a dificuldade desta interpretação: «Quando digo aquele poema engulo em seco, porque me custa imenso dizer aquilo e tento colocar-me no lugar daquelas mulheres. Não imagino o que é ter uma espingarda enfiada na vagina. O poema é de uma grande beleza e ilustrador daquilo que os governos permitem».

Tampões, bicos de patos, cuecas de fio dental são rejeitados veementemente. São José Correia consegue arrancar mais risos ao gritar contra estes atentados à vagina.

Guida Maria interpretou a peça em 2000 sozinha em palco. Agora a nova encenação de Isabel Medina opta por uma história contada a três:

«Guida Maria representa a vivência pela idade que tem. A Ana Brito e Cunha veste a pele da autora dos monólogos. A São José Correia representa a sexualidade e sensualidade da mulher.»

A peça sobe ao palco, esta terça-feira, no Auditório dos Oceanos no Casino Lisboa.

Reportagem: Irene Pinheiro

Imagem: Luís Silva
Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico
Comentários

PUB
pub
PUB
Outros títulos desta secção