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Internacional
Espanhóis contra vida de luxo do rei
Rei Juan Carlos (Reuters)
Evelise Moutinho em 12 de Junho de 2013 às 11:10
Juan Carlos e Sofia de Espanha gastam por ano bem mais do que os oito milhões de euros que o governo espanhol lhes atribui para fazer face às suas despesas e representações oficiais.

A viver uma crise sem igual, com o número de desempregados a atingir o máximo histórico de quase cinco milhões, os espanhóis estão mais do que nunca atentos aos gastos da Casa Real, em especial aos do rei. E numa altura em que fazem contas apertadas para se manter à tona, os espanhóis viram com bons olhos o gesto de Juan Carlos que recentemente renunciou ao uso do Fortuna, o iate da família real espanhola, passando assim uma imagem menos ostensiva.

Recorde-se que só para encher o depósito desta embarcação com 41 metros de comprimento eram precisos 26 mil euros. A medida foi populista mas não do agrado de todos.

A Fundatur (Fundação Turística e Cultural da Ilhas Baleares) já veio a público reclamar a devolução do iate agora nas mãos do Estado. Isto porque foi esta instituição, composta por um grupo de empresários das ilhas Baleares, que ofereceu o Fortuna ao rei em 2000.

No entanto, a verdade é que se a Casa Real corta de um lado, gasta mais do outro. Nos últimos dias, os espanhóis ficaram a saber que, só em flores e cavalos, a Casa Real gasta cerca de 400 mil euros por ano, e que a manutenção do palácio de Marivent, a residência de verão da família real espanhola em Palma de Maiorca, custa ao governo das Baleares qualquer coisa como 1,7 milhões de euros.

E se os valores em questão são exorbitantes e até um pouco obscenos dada a conjuntura económica atual, o mais grave é que estas somas estão fora do orçamento anual de quase oito milhões que os reis recebem para as suas despesas.

Tempos houve em que ninguém pedia contas aos reis. Mas a crise económica que afeta Espanha e os mais recentes escândalos que envolvem membros da família real, como foi o caso do genro do rei, Iñaki Urdangarín, acusado de fraude com dinheiros públicos, trouxeram descrédito à família real espanhola no seio do povo.

Por outro lado, longe parecem ir também os tempos em que os «segredos» de Juan Carlos ficavam escondidos entre as quatro paredes do Palácio da Zarzuela e com a total cumplicidade dos media.

Hoje, com o boom das redes sociais, já nada fica por contar e as verdades indesejadas são reveladas sem qualquer pudor. Foi precisamente o que aconteceu com o escândalo da caçada aos elefantes na África do Sul, no início do ano passado, que obrigou o monarca ao seu primeiro pedido de desculpas público.

Esse acontecimento teve ainda uma consequência maior: pôs a descoberto a vida dupla do rei, até então sempre protegida por todos graças a uma espécie de acordo de cavalheiros entre a casa real espanhola e os media.

Os espanhóis e o mundo ficaram a saber que a relação de Juan Carlos e Sofia, casados há 50 anos, é uma farsa. Há alguns anos que o rei tem uma relação com a alemã Corinna Larsen, que, além de viver nos terrenos da Zarzuela, relaciona-se com os filhos da rainha.

Aliás, foi a própria que organizou a lua de mel dos príncipes das Astúrias. Se antes os espanhóis pareciam aceitar com carinho as falhas de Juan Carlos, as dificuldades que o povo atravesse parece ter diminuído a margem de tolerância.

Cansados dos escândalos, os espanhóis querem saber onde são gastos os quase oito milhões que Juan Carlos e Sofia recebem anualmente e que parecem não chegar para uma vida palaciana.
Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico
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