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Nacional
Manoel de Oliveira faz 104 anos e ainda tem muitos filmes na cabeça
Manoel de Oliveira Foto: Lux
Redação Lux em 10 de Dezembro de 2012 às 09:10
O realizador Manoel de Oliveira, o único que acompanha a história do cinema português desde o tempo do filme mudo, completa 104 anos na terça-feira, ainda a recuperar de problemas de saúde, mas com muitos projetos na cabeça.

Fonte da família disse à agência Lusa que Manoel de Oliveira deverá celebrar o aniversário em casa, em família, porque ainda recupera de uma insuficiência cardíaca, que o manteve uma semana internado no hospital, em julho.

"Mas tem sempre muitos projetos. Neste momento tem para dois filmes: Um chama-se 'O velho do Restelo' e o outro 'A igreja do diabo', a partir dos contos de Machado de Assis", disse a mesma fonte.

O produtor Luís Urbano explicou à Lusa que aqueles dois projetos estão em fase de captação de financiamento. Ambos têm argumento de Manoel de Oliveira, sendo que "O velho do Restelo" inspira-se em textos de Camões, Teixeira de Pascoaes e Cervantes.

Manoel de Oliveira diz sempre que é o cinema que o mantém vivo - além de um capricho da natureza que lhe tem dado longevidade - e que o faz ser um dos mais velhos realizadores do mundo em atividade.

A saúde pode ter-lhe pregado uma partida no verão, mas Manoel de Oliveira termina um ano que fica marcado pela estreia da longa-metragem "O gebo e a sombra" (exibida em antestreia em Veneza e na Assembleia da República) e da curta-metragem "O conquistador conquistado", rodada em maio em Guimarães a convite da Capital Europeia da Cultura 2012.

"O cinema é a motivação para Manoel de Oliveira viver e não ficar em casa de chinelos a ver televisão", disse à agência Lusa Júlia Buisel, assistente de realização, de cena e atriz, que trabalha com o realizador há mais de trinta anos.

Júlia Buisel escreveu um livro sobre os bastidores do cinema e do teatro, intitulado "Antes que me esqueça", e nele fala sobre a rodagem de alguns dos filmes de Oliveira e sobre a experiência de trabalhar com o realizador.

"É das pessoas mais inteligentes e intuitivas que eu conheço, com um olhar vivo como o da Agustina [Bessa Luís] e que dá liberdade ao ator, apesar de ser muito rigoroso e preciso", descreveu.

A autora, que em 2002 publicou uma fotobiografia de Manoel de Oliveira, não compreende as diferenças de visibilidade da obra do cineasta em Portugal e no estrangeiro: "O cinema de Manoel de Oliveira obriga a estar e a pensar. Como é que se explica que os japoneses gostam tanto do cinema dele?", questionou.

O livro "Antes que me esqueça" será apresentado na quarta-feira em Guimarães e é possível que Manoel de Oliveira esteja presente.

A investigadora Leonor Areal, que no final do ano passado editou o livro "Cinema português - um país imaginado", espanta-se porque é que ainda há quem pergunte pela importância da obra de Manoel de Oliveira, que na sua opinião é inquestionável.

"Porque já fez mais filmes do que qualquer outro, porque é mais original, inventivo e irreverente. Porque é conhecido e reconhecido em todo o mundo", disse à agência Lusa.

Para Leonor Areal, Manoel de Oliveira "é um homem de génio" e a sua obra, assim como todo o cinema nacional, devia ter mais apoios "não apenas por via dos financiamentos, que sempre foram miseráveis, mas também por meio de uma programação consistente e uma promoção adequada - uma sala que fosse - que tivesse por desígnio exibir cinema português".

Lusa
Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico
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