O ABORRECIMENTO DAS CRIANÇAS
“Onde está a velha infância, cadê a alegria de brincar e correr? Tempos modernos... Prefiro o passado, onde as pessoas conviviam mais próximas. Hoje, a tecnologia encurtou as distâncias, mas separou as pessoas.”
Guimarães Júnior
Tenho pena das crianças, nesta pandemia. Sem estarem em risco de vida, estão comprometidas no seu crescimento físico e psicológico. Um estudo realizado no Reino Unido, feito online a quase mil encarregados de educação, dá-nos motivos de preocupação. Na população entre os 5 e os 11 anos, os efeitos do confinamento (em inglês, “lockdown”) foram visíveis e sentidos pelos pais. Em primeiro lugar, estes referiram o tédio como o principal efeito nocivo. Não poder brincar nem sair de casa aborreceu doentiamente 78% dos miúdos. Logo a seguir, surge a solidão e a frustração. Pensaremos, erradamente, que as crianças podem não sentir-se sozinhas quando estão com a família. Na prática, não é nada assim: elas precisam de estar entre iguais. Estar na escola e com outras pessoas da mesma idade é fundamental para o seu bem-estar psicológico. Depois do tédio e da solidão, o efeito mais relatado foi a frustração. Os principais sintomas descritos pelos educadores foi a irritabilidade, a ansiedade, a raiva e a tristeza. Apesar de estarem distraídas, passaram a maior parte do tempo em frente a ecrãs e muito menos a realizar atividades físicas, incluindo dormir. Claro que tudo se traduziu, depois, numa convivência familiar bem mais tensa. Infelizmente, o Natal terá sido sol de pouca dura para as crianças, em Portugal. Muitos previram (e tinham razão) que a reunião mais alargada durante esta data festiva podia ser um presente envenenado. Infelizmente, está a ser. Mas se nós, adultos, não formos os primeiros a prevenir novos contágios, não nos podemos admirar que os mais novos se ressintam ainda mais. Por vezes, esquecemo-nos o tempo que demora o tempo de quem está a crescer. Pensemos nos idosos acima de tudo, mas as crianças não podem continuar a sofrer tanto. Que surjam novas ideias e mais psicologia para tratar estes problemas.
(Crónica publicada na Lux 1081 de 15 de janeiro)