As complicações decorrentes do exercício da Medicina sucedem desde sempre e muitas vezes a sua explicação é difícil, perturbadora, para quem tudo faz para tratar a doença e salvar vidas, os médicos.

É uma das razões pelas quais a Medicina não é uma ciência exata.

Uma das especialidades médicas de que mais se fala, pelas suas características próprias e pela curiosidade do público em geral, é a Cirurgia Plástica na sua vertente estética.

Sendo uma especialidade médica e cirúrgica, a Cirurgia Plástica na vertente estética não está isenta de complicações, antes pelo contrário, sabe-se que é das que mais complicações produzem.

Não haverá cirurgiões que não tenham sido surpreendidos por complicações. Uma complicação é algo que ocorre após uma intervenção cirúrgica, de forma imprevista e não desejada. Uma complicação não deve ocorrer no decurso de uma

intervenção, a menos que, por exemplo, surja algo de verdadeiramente anómalo, o que é extremamente pouco comum.

Devemos ter a noção de que há complicações que surgem em cirurgias planeadas e competentes. Estas são as complicações de que não gosto mas com as quais aprendi a conviver, porque são inevitáveis na vida de qualquer cirurgião. É o RISCO operatório.

A aceitação de uma complicação ou de um insucesso por parte de um doente é muito influenciada pelo nível de informação

que previamente lhe é prestado.

Se uma complicação for uma completa surpresa para o doente, o sofrimento físico e intelectual torna-se ainda mais difícil de aceitar. É imperativo gerir as expectativas dos

doentes de forma honesta, prestar completa informação, mostrar em consulta casos clínicos semelhantes, mas sou absolutamente contra a simulação prévia de resultados com sistemas de Photoshop. São inevitavelmente criadas expectativas que não poderão vir a ser cumpridas e que conduzem à desilusão.

Uma coisa é carregar num botão de um computador, outra é a realidade de um bloco operatório, onde se lida com expectativas humanas.

Uma das mais frequentes complicações em cirurgia plástica é a insatisfação com um resultado cirúrgico.

O que se me afigura como certo é que há complicações «altamente previsíveis» em «cirurgia plástica» e há complicações imprevisíveis em cirurgia plástica. É o lado obscuro e perigoso das complicações cirúrgicas, infelizmente tão frequentes.

E o que é que são «complicações previsíveis»?

São aquelas que decorrem da prática menos criteriosa de médicos, ou as que resultam do exercício e da aplicação de técnicas de «cirurgia plástica» por quem não está minimamente preparado para o fazer, e que, nem de longe nem de perto, recebeu treino específico para as executar, não sendo, por conseguinte, acreditado pela autoridade que confere títulos de especialidade em Portugal, a Ordem dos Médicos.