A infanta Cristina, filha do rei espanhol Juan Carlos, chegou este sábado (8), minutos antes das 09:45 locais (08:45 em Lisboa) ao tribunal de Palma de Maiorca onde será ouvida como arguida por alegados delitos de fraude fiscal e branqueamento de capitais.
Sorridente e saudando com «bons dias» os muitos jornalistas presentes, Cristina foi recebida à porta do tribunal pelo seu advogado.
Manifestantes antimonárquicos, trabalhadores despedidos da Coca-Cola e outros reuniram-se a cerca de 100 metros da entrada, separados por um cordão policial
O depoimento da filha de Juan Carlos chega depois de dois anos de instrução do processo conhecido como Nóos, que envolve o marido de Cristina, Iñaki Urdangarin.
Mais de 40 advogados, representando a defesa de todos os arguidos e as acusações particulares e populares, acompanham o depoimento de hoje onde está proibido o uso de telemóveis ou computadores, para evitar filtrações.
Quatrocentos jornalistas de vários países estão acreditados para acompanhar o julgamento, com unidades móveis de televisão a ocuparem todas as zonas nos arredores do tribunal.
Até a chegada hoje ao tribunal esteve marcada pela polémica, com debates sobre se a filha do rei deveria ou não descer a pé a pequena rampa que conduz à entrada do edifício, acabando por a polícia recomendar que o fizesse de carro.
Esse «passeillo» como ficou conhecido em Espanha, tornou-se famoso por ser o local onde as câmaras de televisão filmaram cada uma das entradas na audição do seu marido, Iñaki Urdangarin.
Depois o debate foi sobre se o depoimento deveria ou não ser gravado e com ou sem vídeo, tendo o juiz acabado por deliberar fazer apenas uma gravação em áudio.
Perante forte atenção mediática, dentro e fora de Espanha, este caso envolveu a Casa Real numa das suas maiores polémicas de sempre, com amplos debates sobre até que ponto é que a infanta conhecia os negócios mais questionáveis do seu marido.
O nome de Cristina surge em documentação que faz parte do processo.
Esta foi a segunda vez que o juiz José Castro constituiu a infanta como arguida neste processo. Em abril de 2013 acabou por suspender essa decisão, depois de um recurso apresentado pela procuradoria anticorrupção.
A Audiência Nacional deixou sem efeito essa decisão de abril, mas apontou novas linhas de investigação para averiguar se a filha de Juan Carlos poderia ser responsável por delitos fiscais e branqueamento de capitais através da empresa Aizoon.
Cristina de Borbon controla 50% do capital da Aizoon e o seu marido os restantes 50 por cento. A Aizoon era uma das empresas envolvidas no universo da empresa Nóos, que está a ser investigada há vários anos pelo alegado desvio de milhões de euros de fundos públicos.
No auto, o juiz espanhol considera haver indícios suficientes de que a infanta autorizou que a Aizoon «servisse de base imprescindível para que se cometessem delitos fiscais», tendo realizado ainda gastos fraudulentos com fundos da empresa.
O juiz José Castro considera que tem a obrigação de ouvir a infanta para que esta dê conta do seu conhecimento sobre os alegados delitos fiscais cometidos pela empresa Aizoon, que terá servido para distribuir lucros das atividades ilícitas do Instituto.
Lusa