QUEM VÊ MÁSCARAS NÃO VÊ CORAÇÕES por Filipa Guimarães
Penso que quase toda a gente teve aquela sensação de que, quando uma coisa começa a correr mal, outras piores acontecem. Como se fosse um karma, um castigo divino, um voodoo feito por qualquer inimigo perdido no tempo. Daí a expressão “tens de ir à bruxa”! Como não conheço nenhuma certificada à mão, o único remédio que tenho é respirar fundo e tentar relativizar os problemas. Mas às vezes não é possível. Esta semana, e porque a minha vida é feita cada vez mais online, o meu computador avariou. Pifou, faleceu, bateu a bota, foi desta para melhor. Ao fazer uma aula de ginástica via Zoom, estiquei a perna para o lado e bati com o pé numa garrafa de água. Resultado: o teclado molhado e o meu coração aos saltos. Levantei-me para o ir limpar logo e lembrei-me de ir buscar um secador de cabelo, como já fiz quando, sem querer, molhei o telemóvel. Só que, de repente, lembrei-me que o tinha esquecido em casa dos meus pais. Quase a rezar, corri para o cabeleireiro mais próximo: “Por favor, empreste-me o secador só um bocadinho!” Como agora andamos de máscara senti-me o cowboy a entrar num saloon: a assustar toda a gente! É que mesmo que sorriamos com o olhar não é a mesma coisa. A cabeleireira foi simpática e ajudou-me a “secar” o aparelho mas... nada feito. Lá fui para um serviço de reparação de computadores. As minhas pernas tremiam com medo do diagnóstico. E com razão, pois o informático disse logo que podia estar todo danificado e, se não tivesse seguro, mais valia comprar outro. E lá está, de máscara posta, mais parecia um enfermeiro sádico. Esperemos encontrar formas mais eficientes de nos exprimirmos.
“Os olhos são o espelho da alma”, costumam dizer. Mas há muitas outras expressões que nos fazem falta para comunicar. Pode ser que apareça um modelo transparente. Porque os olhos também mentem e quem vê só parte da cara, não vê corações.
(Crónica publicada na Lux 1055 de 20 de julho)