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Nacional
Alta Costura por Filipa Guimarães: 'Uma camisola chamada dinheiro'
Alta Costura na Lux por Filipa Guimarães, jornalista e escritora Foto: Carlos Ramos
Redação Lux em 30 de Julho de 2020 às 18:00

"Uma camisola chamada dinheiro" por Filipa Guimarães

Não é de agora que o amor ao dinheiro foi substituído pelo amor à camisola. Só quase os adeptos dos clubes desportivos sabem o que isso é. Se compreendo? Às vezes. Se acho bem? Depende. Se me choca? Bastante. Choca-me que não se ganhe apreço pelos sítios e pessoas com quem trabalhamos, por quem nos deu asas e nos tratou bem. Podem sempre aparecer conflitos, arrependimentos e outros objetivos profissionais. O que era bonito é que não se deixasse as casas sem tempo ou alternativas e, com um mero encolher de ombros, agitar uma nova bandeira com o previsível mesmíssimo sorriso. Claro que estou a falar da Cristina Ferreira, o fenómeno da televisão portuguesa, que fez subir as audiências de uma estação outra vez. Deram-lhe um salário astronómico, acima do normal, nas barbas de muitos trabalhadores com amor à camisola, mas sem aumentos salariais. Muitos deles, há demasiado tempo. Outros por imposição dos limites da troika, mas não só. Como, sem hesitação, afirmou o antigo ministro da Comunicação Social, Miguel Poiares Maduro: “As empresas privadas devem ser livres de pagarem aos seus funcionários e gestores o que quiserem. É o mercado que as vai premiar ou penalizar por essas decisões de risco. Mas é diferente quando pedem apoio financeiro ao Estado. Os bancos que receberam auxílio do Estado durante a crise financeira ficaram sujeitos a tetos salariais. Mas ninguém parece incomodado com contratações milionárias por empresas de media que ainda há pouco reclamavam e receberam auxílios públicos.” Depois da vinda da troika, as regras tiveram de mudar para muitos. Com esta nova crise da pandemia, as televisões recebem milhares para não irem ao fundo. Jogamos todos num novo tabuleiro. Então, porque é que estas estrelas estão à parte? A resposta é fraca: porque se tratam de estrelas.

(Crónica publicada na Lux 1056 de 27 de julho)

Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico
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