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Crianças
Madrastas e padrastos
Paulo Oom(Lux)
Redação Lux  com Paulo Oom em 13 de Novembro de 2010 às 12:00
Para uma criança, quase tão importante como a separação dos pais é a reconstituição da família quando o pai ou a mãe decidem voltar a casar. Porque implica uma série de alterações importantes naquele equilíbrio, por vezes já instável, de saber viver com pais separados. É o aparecimento de um padrasto ou madrasta, que serão sempre comparados ao pai ou à mãe, e que muitas vezes trazem consigo os filhos, os novos «irmãos» com os quais a criança terá de se relacionar. Em alguns casos, isto implica também uma mudança de casa do pai ou da mãe, para outra maior capaz de albergar toda a gente.

A forma como os adultos lidam com esta situação é fundamental para determinar como a criança vai, também ela, encarar todas estas novas alterações. É importante submetê-la ao mínimo de alterações possível. A sua rotina deve sofrer apenas as alterações inevitáveis, eliminando-se as evitáveis. A casa, a escola, os dias de visita ao pai ou à mãe não devem, se possível, ser alterados. É importante que o pai ou mãe lhe expliquem tudo sobre a nova situação com tempo e calma, que lhe digam como esta nova pessoa é importante para as suas vidas, que gostam dela e que foi por isso que decidiram ir viver com ela.

É fundamental que a criança saiba (e sinta) que todas as novas alterações não irão influenciar a sua relação com o pai ou a mãe, que estes continuam a gostar dela como sempre e que continuarão (isto é muito importante!) disponíveis para ela, reservando-lhe momentos a sós, regularmente. Este tempo em privado, em que apenas estão presentes o pai (ou a mãe) e a criança, é fundamental para manter e estreitar a relação entre os dois e para que a criança sinta que ainda tem, e terá sempre, um lugar especial no coração daquele adulto.

Mas se é verdade que o pai ou a mãe devem dar à criança toda a atenção de que ela necessita (e se calhar, atenção suplementar, nesta fase crucial da sua vida), também o é que não devem deixar que a criança interfira demasiado na sua vida afetiva, nomeadamente na sua relação com a nova parceira ou parceiro. A criança deve entender que, para os seus pais, ela é muito importante, mas que existem outras pessoas também importantes. Deixar a criança intrometer-se entre o novo casal é condenar ao fracasso a relação entre os adultos e a relação com os filhos. Todos saem a perder. Se é importante que a criança se sinta especial, também o é que saiba que o pai ou a mãe não vivem em exclusivo para ela, que cuidam de si e da sua vida e que têm outros interesses. Este exemplo de vida é o melhor testemunho que podem dar aos seus filhos.

Em termos de disciplina, há uma regra fundamental para evitar muitos mal-entendidos e discussões: o pai ou a mãe biológica devem continuar a ser os responsáveis pelos aspetos mais importantes da educação da criança. É um erro a madrasta ou o padrasto tomarem a seu cargo as questões disciplinares. Devem, sim, apoiar a educação dada pelo progenitor. O novo elemento do casal deve ter o bom senso de deixar que as matérias mais sensíveis, principalmente as que dizem respeito à eliminação de comportamentos inadequados, fique a cargo da mãe ou do pai. Pôr de castigo, retirar privilégios, estipular tarefas, dar uma reprimenda ou estabelecer consequências lógicas para o mau comportamento devem estar a cargo do pai ou mãe. Ao novo elemento do casal é reservada a posição de apoiar estas medidas. Caso não concorde com alguma delas, deverá discuti-lo em privado, nunca à frente da criança.

Contrariamente, tudo o que sirva para estimular os comportamentos adequados, como elogiar, encorajar, fazer pedidos simples ou estabelecer escolhas limitadas pode servir para que o novo adulto tenha algum papel positivo na educação da criança, sempre sem se impor, mas também sempre sem se rebaixar ou deixar espezinhar. Cada um deve estar no seu lugar. Nestes casos, o pai ou a mãe biológicos deve posteriormente apoiar ou reforçar a atitude tomada.

Não existem regras universais e aplicáveis a todos.
Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico
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