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Porque é que é tão difícil compreender a ciência?
IOL Mãe - Alimentação
Redação Lux  com Catarina Roquette Durão em 10 de Outubro de 2010 às 11:02
Já não é a primeira vez que vos falo das mensagens enviesadas a que as ciências da alimentação e da nutrição estão sujeitas.

Todos nós comemos! Este facto pode levar a pensar que - por isso - todos nós sabemos de alimentação e nutrição. De facto, é verdade que todos sabem o que são batatas, repolhos, cenouras, pão, leite ou ovos (muitos outros alimentos poderíamos enumerar), mas isso não nos faz especialistas em ciências da alimentação e da nutrição.

Acabámos de passar a «época alta» dos temas alimentação, nutrição e dietas ¿ um verdadeiro suplício para nutricionistas mais cuidadosos. Em inúmeras publicações (as menos cuidadosas) lêem-se textos que geram verdadeiros mitos que jogam com os factos reais ¿ ou seja, simplificam demasiado, generalizam, confundem mensagens e invertem imagens.

Apenas para ilustrar como é possível distorcer a mensagem científica, generalizando-a, deixo um exemplo: Imaginem que determinado remédio tira a dor de cabeça - será que podemos dizer que a dor de cabeça se deve à falta desse remédio? É evidente que não! As mensagens enviesadas estão constantemente a acontecer em alimentação e nutrição, de modo que me pareceu importante explicar um pouco cada uma delas.

A alimentação é a ação de fornecer ao organismo os alimentos de que precisa. Corresponde ao conjunto de alimentos que se escolhe, prepara, cozinha, distribui por refeições e se ingere. Isto é o que todos nós - mesmo leigos - conseguimos compreender melhor; estamos a falar de alimentos (arroz, massa, leguminosas, couve galega, alface, tomate, beringelas, laranjas, azeite, etc.). Não é simples, mas é mais fácil de compreender do que a nutrição.

A nutrição refere-se aos nutrientes que os alimentos fornecem ao nosso organismo, bem como a todos os processos de disponibilização e utilização desses nutrientes. Refere-se, pois, a compostos presentes nos alimentos, que são disponibilizados ao nosso corpo após digestão e que são absorvidos e utilizados pelo organismo; neste caso, estamos a falar de hidratos de carbono, proteínas, lípidos («gorduras»), vitaminas, minerais, etc. Já não é tão fácil de compreender, até porque alguns dos nutrientes não são percecionáveis apenas olhando para um alimento. Por exemplo, é fácil percecionar que o esparguete fornece hidratos de carbono, mas já não é tão fácil percecionar que a salsa é rica em vitamina C. Mas o que interessa mesmo é saber comer!

E isso, nas palavras de um verdadeiro sábio, que tive a honra de ter como professor - Emílio Peres - está muito bem definido: «Comer bem não é comer muito, nem comer pouco... É comer de acordo com as necessidades de cada um, em função de sexo, idade, altura e atividade física.»

Porque é que se gera tanta confusão? Gera-se confusão porque o assunto é - de facto - complexo. Complexo de entender, difícil de estudar e - sobretudo - complicado de comunicar. Neste último aspeto, alguns investigadores têm responsabilidade, pois as suas mensagens são (por vezes) demasiado científicas. No entanto, também os Governos, a indústria e os meios de comunicação social estão envolvidos nessa responsabilidade.

Os dados científicos são muitas vezes complicados de explicar e os Governos demoram a adotar medidas políticas que possam acompanhar o avanço do conhecimento científico. Por outro lado, a indústria - quando séria (e há indústria alimentar séria) - promove a investigação e impulsiona o avanço de conhecimentos e de novas tecnologias, mas também é capaz - quando menos séria - de ajudar a criar mitos difíceis de combater.

É por tudo isto que os especialistas mundiais em alimentação e nutrição decidiram reunir-se em congressos mundiais para discutir os aspetos verdadeiramente importantes da alimentação e da nutrição a nível mundial.
Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico
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