A diva do cinema europeu Claudia Cardinale descreve-se como uma «mulher de sorte», por ser atriz e uma atriz de paixões que vive o amor através do cinema e que se recusa a deixar de sonhar.
Em entrevista à agência Lusa, a «musa» de Manoel de Oliveira afirmou ter realizado um desejo «já antigo», filmar com o realizador português, um homem que descreve como sendo «extraordinário» e «cheio de energia».
Presente na Capital Europeia da Cultura Guimarães 2012 para a pré-estreia do filme «O Gebo e a Sombra», obra que junta os dois decanos do cinema europeu, Cardinale confessou que não se lembra se alguma vez filmou em Portugal. «Depois de 130 filmes rodados é difícil recordar».
O mundo viu-a pelo olhar de mestres do cinema como Fellini e Visconti, lado a lado com Marcello Mastroianni ou Omar Shariff, agora, no mais recente filme da sua já longa carreira, foi a vez de Manoel de Oliveira a eternizar.
Em «O Gebo e a Sombra», Claudia Cardinale dá vida a Doroteia, uma mulher que a atriz descreve com a palavra «tristeza».
«A minha Doroteia é uma mulher muito triste, que está sempre a pensar no filho que há muito não vê. E o marido, Gebo, esconde-lhe a verdade sobre esse filho ausente», afirmou. Mas, explicou, é na mentira de Gebo que Cardinale vê o amor de um homem por uma mulher.
«Ele mente-lhe porque sabe que a verdade lhe causaria muita dor, é a forma de a proteger. Até ao fim, nunca lhe conta a verdade. Isto é amor», afirmou.
E o que é o amor para Claudia Cardinale aos 74 anos? A resposta é dada entre a cumplicidade do sorriso e do olhar. «Bem, não é o casamento», disse, por fim.
«Já não sou casada. Nem me irei casar. Já assinei um compromisso com o cinema e não vou assinar outro compromisso», assegura. O amor vê-se no olhar de Claudia para câmara.
Sobre Manoel de Oliveira, outro cúmplice. Foi a primeira vez que trabalharam juntos.
«Foi uma honra trabalhar com o Manoel. É um grande realizador e uma pessoa extraordinária e com muita energia», explicou.
O realizador português era o mestre que «faltava» no currículo de Cardinale, mas a mulher que se descreve como uma «donna», que teve a «sorte de ser atriz» afirmou não pensar no que lhe falta fazer.
«Se não fiz uma coisa é porque o destino não quis», declarou.
Mas quer a «fortuna» que Claudia Cardinali continue a trabalhar. «Faço 4 filmes por ano. E ainda sonho. Sempre com algo de positivo», disse com a jovialidade do sorriso que a idade não lhe conseguiu apagar.
Claudia Cardinale, a atriz que não sofre com as lembranças do passado, que disse «não ter saudades de nada», e já ter feito tudo, carrega ainda um sonho de menina que lhe preenche o tempo.
«Quando era miúda queria ser explorador. E é isso que faço. Viajo por todo o lado», afirmou.
«O Gebo e a Sombra» chega às salas portuguesas de cinema a 11 de outubro.
Lusa
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