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Crianças
E não se pode dar uma palmada?
birra
Redação Lux  com Paulo Oom em 27 de Agosto de 2012 às 10:06
Acredito que a melhor forma de educar os nossos filhos é através da criação de um bom ambiente familiar, acompanhado de uma estimulação adequada dos comportamentos corretos. Mas acredito também que, por vezes, temos de utilizar outras medidas, quando queremos terminar um comportamento que consideramos incorreto. Existem várias medidas possíveis, como colocar de castigo ou retirar privilégios, por exemplo, mas pode chegar a altura em que uma palmada possa surgir.

A palmada deve ser o último recurso. Alguns pais e mães têm «mão pesada», mas o que acontece, muitas vezes, é que a situação poderia ser resolvida de outra forma e a palmada equivale apenas a uma birra dos pais, que perderam o controlo da situação. Uma palmada serve muitas vezes apenas para libertar a raiva e a frustração dos pais, ao mesmo tempo que lhes dá um sentimento de autoridade numa situação descontrolada.

Por isso, antes de partirmos para a palmada, devemos estar calmos, ter a situação sob controlo e saber muito bem o que estamos a fazer.

A palmada pode ser usada em casos pontuais e de grande gravidade, que possam colocar a saúde ou a segurança da criança (ou de outras crianças) em perigo.

Uma palmada deve ser sempre usada de forma ligeira, valendo mais pelo gesto do que pela dor provocada na criança. O resultado é uma mensagem forte de que aquele comportamento não é de todo tolerado e de que a criança não deve repeti-lo nunca mais. É um método fácil, rápido, muito eficaz a curto prazo e que pode ser utilizado em qualquer local.

Como regra geral, nunca devemos bater numa criança como represália pelo facto de ela nos ter batido ou de ter batido noutra criança qualquer. Se reprovamos essa forma de violência física, não é repetindo-a que vamos dar o melhor exemplo aos nossos filhos. É o mesmo que dizermos «não mintas» e a seguir mentirmos ou de dizermos «não roubes» e a seguir sermos apanhados a roubar.

Quais os perigos que uma palmada pode acarretar? O primeiro, e mais importante, é que a palmada, se usada com frequência, transmite valores errados aos nossos filhos. Eles aprendem que devem obedecer não porque seja eventualmente o mais correto, mas porque são mais fracos ou têm medo. Aprendem também que a violência é uma forma eficaz e aceitável de resolver alguns conflitos. Em segundo lugar, quando usada com frequência, a palmada vai perdendo o seu efeito ou o mesmo efeito só é conseguido batendo com mais força ou com mais frequência.

Vários estudos já demonstraram que os pais que abusam da palmada têm maior possibilidade de maltratar os seus filhos de diversas formas. Para além disso, bater com frequência leva a uma maior ansiedade e a uma menor autoestima da criança. Por fim, as crianças que sofrem represálias físicas são habitualmente crianças mais agressivas para com os irmãos ou os colegas da escola e têm uma maior probabilidade de vir a desenvolver, mais tarde, comportamentos de risco, como violência doméstica, abuso de drogas, delinquência e comportamentos antissociais.

Não podemos esquecer que a palmada não tem qualquer efeito em crianças com menos de 18 meses, que não têm a capacidade de relacionar o mau comportamento com a consequente palmada, e não é uma opção no adolescente, deixando muitos pais num beco sem saída quando esta foi a forma de punição mais utilizada enquanto a criança era mais nova.

No entanto, se for utilizada de forma pontual e para situações graves, o gesto vale por si e não podemos cair no erro de ficar com problemas de consciência, remorsos ou, pior ainda, procurar compensar a criança pela nossa atitude. Se a atitude foi tomada com calma e sem descontrolo, se não correspondeu a uma birra do pai ou da mãe, vale por si e o assunto está, naquele momento, encerrado. Mais tarde, se necessário, podemos voltar à conversa e explicar o porquê da nossa medida extrema.
Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico
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